Esqueça o bar. Você já está rodeado de mulheres desejáveis cinco dias por semana. São suas colegas de trabalho – e uma delas pode ser sua cara-metade. Saiba agir para se dar bem nessa!
Regra 1
O RH é importante, mas quem dá as cartas são os colegas
Quando Guto (cujo nome foi mudado, como o de todos os personagens entrevistados para esta reportagem, a fim de preservar o dia a dia deles) conheceu Amanda, ele tinha 23 anos e estava começando na empresa. Ela tinha 29, cabelos loiros, um lápis atrás da orelha e se vestia de preto. De cara, Guto ficou atraído. Amanda era supervisora dele.
Vários romances entre chefes e subordinados começam inocentemente assim. E poucas companhias têm uma política para esses ou outros tipos de relacionamento: em pesquisa exclusiva do Jornal da Tarde, 79% dos executivos afirmam que não existem regras sobre relações amorosas nas empresas em que trabalham. Mas com ou sem regras, lembre disto: pode haver uma diferença enorme entre o que é permitido e que é esperto.
Segundo a Sociedade para a Gestão de Recursos Humanos (EUA), 80% dos profissionais de RH e 60% dos empregados acham que relacionamento entre chefe e subordinado deve ser proibido. Fique ligado: a pessoa que namora um superior goza de menos confiança dos outros e eles mentem para ela com maior frequência do que para quem sai com alguém da mesma posição, de acordo com Sean Horan, professor de comunicações da Universidade DePaul (EUA). “As pessoas muitas vezes pensam que o indivíduo que namora o/a chefe tem acesso privilegiado a informações e é protegido”, explica ele.
Felizmente para Guto (ao menos no que se refere à carreira), Amanda não se interessou naquele momento. Quando ele foi transferido de departamento, os dois eram amigos – almoçavam juntos, iam beber com colegas. Guto chegou até a dormir no sofá de Amanda enquanto estava se mudando de casa. Daí, uma noite, após um jantar, eles trocaram beijos. Ele acordou no quarto dela na manhã seguinte e saiu de fininho.
Regra 2
Antes de tirar a roupa, descubra se é uma brincadeira
No entender de Guto, aquela noite foi o início concreto de um romance que vinha se desenvolvendo. Para Amanda, não passou de brincadeira. Essa diferença de percepção é difícil de encarar. Ainda mais quando você tem que ver na manhã seguinte, na manhã depois daquela, e assim por diante, a mulher com quem dormiu. É como atolar na ilha do constrangimento.
Foi o que rolou com Marco, 23, e Luísa, 27. Conheceram-se no trabalho e logo passaram do papo perto da máquina de café à cerveja no bar mais próximo. E, daí, aos amassos sob a mesa da sala de conferências. Mas bem quando Luísa se viu pronta para levar as coisas mais a sério, Marco quis pôr fim em tudo. O que aconteceu em seguida é o que ocorre com romances de escritório malsucedidos: uma pessoa fica na boa enquanto a outra fica remoendo. Luísa via Marco flertar com colegas. Ficava furiosa. Mas, felizmente, ela era daquelas mulheres que passam raiva em silêncio. O que nem sempre se dá. A rejeição pode fazer coisas malucas com a cabeça de uma pessoa.
Estudo no Journal of Neurophysiology (EUA) aponta que a mágoa aciona as mesmas regiões do cérebro ativadas em viciados em drogas. Aguentar a rejeição no escritório é um pouco como um cocainômano tentando se livrar da dependência num antro de crack. Aí, só há uma saída: “Você tem que ficar livre do estímulo”, diz Helen Fisher, antropóloga biológica da Universidade Rutgers (EUA), que dirigiu a pesquisa. Isso mesmo: para curar a dor da rejeição, o bom tende a ser mudar de departamento ou, melhor ainda, de empresa.
Regra 3
Esteja pronto para uma ruptura
A melhor forma para evitar o desprazer causado pelo rompimento da relação com a garota do escritório pode ser conversar sobre essa possibilidade já no estágio inicial da paquera. A professora Lisa Mainiero entrevistou cem executivas sobre o romance na empresa e descobriu que mulheres que enfrentaram as rupturas de forma mais positiva foram as que já tinham discutido a pior das hipóteses logo no primeiro encontro. Sim, no primeiro encontro.
Tentar fazer uma triagem quando as coisas estiverem desmoronando – e as emoções, interferindo – pode ser tarde demais. Para Guto e Amanda, o romance parecia dar errado antes mesmo de ter chance de dar certo. Após dormirem juntos, ela queria amizade e ele, tudo ou nada. Fora do escritório, o cara pode persistir. Mas dentro, a insistência possui grande probabilidade de ser entendida como algo sinistro, que pode resultar em uma chamada do RH. Em resumo: se sua situação for como a de Guto, sorria e aguente firme. “Eu estava tão furioso”, diz. “Houve um período de terapia do silêncio.”
Regra 4
Nunca misture papo de travesseiro com conversa de escritório
Isso deve ser um hábito. “Ajuda a manter coisas negativas a distância”, diz Tina Tessina, psicoterapeuta americana e autora de The Unofficial Guide to Dating Again (O Guia Não-Oficial de Namorar Outra Vez, em tradução livre). “Se algo na relação com ela der errado, você vai ter os reflexos de não deixar esses sentimentos escaparem no trabalho.”
Assim fizeram Ricardo e Nina. Envolveram-se quando ele tinha 26 anos e era estagiário do setor jurídico na empresa onde ela, 25, era assistente de pesquisa. Quando Ricardo virou advogado na companhia, tomou a decisão consciente de tratar Nina ainda mais profissionalmente do que fazia com outras pesquisadoras. “No trabalho, somos muito rígidos se estamos um perto do outro”, diz ele.
Mas há outro motivo para manter distância dela no escritório. Por mais tentador que possa ser, dedicar tempo ao foco de suas atenções amorosas durante o expediente pode levar ao que Tessina chama de hiperpanelinha – ou seja, ligar-se a alguém em detrimento das outras relações. Quando isso rola, não demora para colegas se sentirem negligenciados, ficarem ressentidos. E esse pessoal tem influência na sua carreira.
Regra 5
Para variar, procure se pôr no lugar dela
As mulheres ainda precisam lutar por coisas que os homens consideram garantidas. Também é por isso que existe boa chance de ela se preocupar mais do que você com o que os outros do escritório vão pensar. Em estudo publicado no British Journal of Management, Kathleen Riach, professora sênior de administração da Universidade de Essex (Inglaterra), perguntou aos empregados de uma cadeia de bares a opinião sobre romances entre colegas de trabalho. “O homem que tinha conquistado mulheres frequentemente era considerado um garanhão”, diz Riach. “As mulheres eram mais tidas como promíscuas.”
Quando Vivian, 27, e Miguel, 33, começaram a sair, ela escrevia para o jornal onde ele era o editor da revista de fim de semana. Com a melhor das intenções, certa vez Miguel comentou com entusiasmo para outro editor que Vivian era ótima repórter. O cara simplesmente riu, deu um soco de brincadeira na barriga de Miguel e falou que sabia exatamente o tipo de “reportagem” que eles estavam fazendo.
Fique ligado: “Ao travar um relacionamento com uma garota do trabalho, é preciso ter bastante cuidado, pois, aqui no Brasil, ideias de sacanagem pura, ou de `trampolinismo¿, são intensas”, alerta o psiquiatra Carrion. “E isso pode criar situações de constrangimento, ou pressão, graves – além, claro, de manchar a reputação dos envolvidos (muito mais a da mulher).”
Regra 6
Zele pelo seu bom nome
Falando em garanhão, evite essa fama! “A percepção de que você é o Casanova do escritório pode ser broxante para elas”, diz Stephanie Losee, coautora de Office Mate: The Employee Handbook for Finding – and Managing – Romance on the Job (Acasalamento no Escritório: O Manual para Descobrir – e Administrar – o Romance no Trabalho, em tradução livre).
Essa percepção ainda pode alimentar fofoca e impactar, negativamente, sua carreira. Estudo da Universidade de Indiana (EUA) mostra que pessoas sobre quem os colegas cochicham têm maior probabilidade de serem malfaladas publicamente em reuniões.
Mas isso não quer dizer que o namoro no escritório não compense – é só saber bem lidar com os riscos. Lembra-se de Guto e Amanda? Já faz dez anos desde a primeira vez que ele se enfiou na cama dela e, hoje, é lá que Guto acorda toda manhã.