Por Alex Silva
Falar em defesa pessoal pode remeter a cenas de filmes de ação ou a confrontos violentos, mas a realidade é bem diferente. Para especialistas, autodefesa está muito mais ligada a prevenção, saúde e qualidade de vida do que a brigas de rua. Treinar defesa pessoal é aprender a cuidar do corpo e da mente, desenvolver consciência do ambiente, administrar o medo e, acima de tudo, aumentar a autoconfiança.
A Men’s Health conversou com Diogo Assinger, um instrutor que é referência em defesa pessoal, com experiência no treinamento de civis e profissionais, para entender como essa prática pode transformar não apenas a segurança, mas também a saúde, a autoconfiança e a qualidade de vida.
Men’s Health: Quando falamos em defesa pessoal, muita gente imagina cenas de filmes ou lutas violentas. Qual é, de fato, o objetivo central da defesa pessoal?
Diogo Assinger: Esse é um ponto fundamental. Defesa pessoal não é sinônimo de violência, mas sim de sobrevivência e preservação. Ela não é uma modalidade esportiva, não tem regras fixas nem se confunde com artes marciais tradicionais. Podemos definir defesa pessoal como um conjunto de atitudes e conhecimentos que vão da prevenção imediata até a resposta a uma situação de risco. Ou seja, não é só “como reagir a um ataque”, mas também como evitar que ele aconteça.
MH: Então podemos dizer que prevenção é parte da defesa pessoal?
Diogo Assinger:: Sem dúvida. Eu costumo dizer que a verdadeira defesa pessoal começa antes do confronto físico, sendo englobada pelo conceito mais amplo de segurança pessoal. Sua postura, o lugar que frequenta, as companhias com quem anda e até a forma como você caminha na rua podem fazer diferença. Pessoas atentas,
confiantes e seguras de si são menos visadas. Já a distração, a vulnerabilidade ou até a ostentação excessiva aumentam os riscos. Isso está muito ligado à chamada consciência situacional, ou seja, perceber o ambiente e identificar possíveis ameaças.
MH: E como isso se conecta com saúde física e mental?
Diogo Assinger:: De várias maneiras. Em primeiro lugar, treinar defesa pessoal é treinar o corpo. Você melhora condicionamento físico, reflexos e coordenação motora. Isso já traz um ganho enorme de saúde. Mas existe também a parte mental: aprender a lidar com pressão, administrar o medo e tomar decisões rápidas fortalece a
inteligência emocional, tendo o aumento da autoconfiança como uma consequência natural do treinamento.
MH: Em termos práticos, como um civil pode se beneficiar desse tipo de treinamento sem virar “paranoico”?
Diogo Assinger:: Essa é uma ótima pergunta. O treino de defesa pessoal não deve gerar paranoia, mas sim tranquilidade. A ideia é que você desenvolva segurança em si mesmo para viver melhor. Por exemplo: uma pessoa que treina aprende a identificar riscos e a tomar decisões mais racionais. Isso significa que, em uma situação de conflito, ela sabe quando deve se afastar, quando deve verbalizar e, apenas em último caso, quando precisa agir fisicamente. O resultado é que a pessoa fica menos ansiosa no dia a dia, justamente por se sentir preparada.

MH: Existe uma luta ou arte marcial “mais indicada” para quem quer aprender defesa pessoal?
Diogo Assinger:: Essa é a clássica pergunta. E a resposta é: a melhor luta é aquela que você sabe. Boxe, judô, jiu-jitsu, muay thai, krav magá, todas podem ser usadas para defesa pessoal, desde que adaptadas ao contexto real. O boxe, por exemplo, ensina reflexos rápidos e golpes curtos. O judô trabalha quedas e equilíbrio. O jiu-jitsu
ajuda no controle em curta distância. O importante é seguir dois princípios: simplicidade e objetividade. Técnicas curtas, rápidas e fáceis de aprender e aplicar.
MH: O jiu-jitsu brasileiro está na moda e é apontado por muitos como a melhor forma de defesa pessoal. Até que ponto isso é verdade?
Diogo Assinger:: Sem dúvida o jiu-jitsu é uma excelente alternativa. O que acontece é que, nos últimos anos, ele se voltou muito para a prática esportiva e acabou se distanciando um pouco da sua raiz na defesa pessoal. Isso não significa que perdeu valor, muito pelo contrário. Há academias que preservam uma visão mais completa, trabalhando tanto com quanto sem quimono, equilibrando o aspecto competitivo com a aplicação prática do dia a dia. Um bom exemplo é a equipe Arena, em Curitiba, que mantém essa abordagem mais holística.
MH: Muita gente ainda acredita que defesa pessoal é “coisa de polícia” ou só para quem vive em áreas perigosas. Isso procede?
Diogo Assinger:: Não. A defesa pessoal é para qualquer pessoa. Claro que policiais e profissionais de segurança usam em outro nível, mas o civil também precisa se proteger. Pense numa situação simples: alguém tenta agarrar seu braço, empurrar ou até mesmo assediar verbalmente. Ter preparo muda completamente sua reação. E aqui não falo só de luta: muitas vezes a defesa pessoal está em usar a voz, impor limites, se evadir ou até pedir ajuda na hora certa.
MH: Existe diferença entre defesa pessoal e segurança pessoal?
Diogo Assinger:: Sim, e é importante destacar. Segurança pessoal é mais ampla e envolve prevenção e medidas que reduzem riscos, como escolher os locais que você frequenta, horários e até companhias. Já a defesa pessoal entra em cena diante de uma ameaça imediata. É o último recurso, quando não há mais como evitar o confronto físico ou verbal.
MH: Quais seriam os benefícios diretos para um leitor da Men’s Health que decidisse incluir defesa pessoal no seu estilo de vida?
Diogo Assinger:: Eu diria quatro principais:
1. Saúde física: você melhora condicionamento, resistência e reflexos.
2. Saúde mental: aumenta a autoconfiança e reduz o estresse.
3. Consciência situacional: aprende a perceber melhor os ambientes e se prevenir.
4. Qualidade de vida: vive com mais tranquilidade por ter maior autoconfiança e saber que está preparado.
No fim, é como treinar musculação, correr ou praticar ioga. Só que aqui você está trabalhando corpo e mente ao mesmo tempo, com uma aplicação prática imediata para sua segurança.
MH: Muita gente diz que, em um assalto, o mais seguro é não reagir. Então, nesse caso, ainda vale a pena treinar defesa pessoal?
Diogo Assinger:: Com certeza. O treinamento de defesa pessoal não significa que você vai sair para enfrentar criminosos. Pelo contrário: ele começa com a prevenção e com a capacidade de perceber riscos antes que virem ameaça. Isso já reduz muito as chances de passar por uma situação perigosa. E, se ela acontecer, saber reagir de
forma adequada, o que não significa necessariamente reagir com violência, pode ser decisivo para preservar sua integridade física e sair ileso.
MH: Para finalizar, que mensagem você deixaria para quem pensa em começar?
Diogo Assinger: Eu diria: comece agora. Não espere viver uma situação difícil para pensar nisso. Busque uma academia, um instrutor qualificado ou até mesmo cursos voltados para civis. E lembre-se: a defesa pessoal não deve ser vista como violência, mas como cuidado consigo mesmo. É saúde, é autoconhecimento e é também cuidado com o próximo..